"PARABÉNS, PRESIDENTE"


Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 14 de novembro de 1982


EDITORIAL

Na véspera da mais importante eleição dos últimos 20 anos, este jornal sente-se na obrigação de formular, em primeira página, os cumprimentos de que o presidente da República se fez merecedor. Amanhã, quando 58,5 milhões de brasileiros estiverem comparecendo às urnas para o exercício normal de um direito finalmente devolvido, o sr. João Batista Figueiredo estará resgatando uma parte significativa de seu juramento.
Sabemos que a democracia não será obtida da vontade de uma pessoa ou da decisão de um governo. Ela constitui tarefa extremamente árdua, que reclama tempo, bem como coragem e o empenho paciente do conjunto de todos os grupos sociais, de todas as forças políticas, para tornar-se realidade. Mas não resta dúvida de que, nesta delicada fase de transição, retorcida por avanços e recuos, pontilhada de lances dramáticos que têm como pano de fundo a mais aguda crise que a economia mundial já atravessou nos tempos modernos, a construção democrática tem contado com uma sustentação da qual não poderia prescindir - e sem a qual dificilmente teríamos chegado aonde nos encontramos hoje: a sustentação do presidente Figueiredo.
Parabéns, Presidente. Com determinação e habilidade o seu governo vem obtendo sucesso na missão de levar adiante o projeto político que credencia seu antecessor, o presidente Geisel, perante o julgamento da História.
As eleições de amanhã abrem novas perspectivas para a vida nacional. Com realismo, sem menosprezar as dificuldades que temos pela frente e, sobretudo, sem nos iludir-mos com respeito à gravidade da situação econômica e social do País, temos todos o direito de confiar que os resultados do pleito propiciarão transformações importantes. Empossados os vitoriosos na disputa pelo voto popular, estarão estabelecidas as bases para um novo período da abertura política, a desenvolver-se sob a égide da negociação.
Será preciso que nos reeduquemos na democracia, na prática de compreender a vitória e a derrota política como fatos corriqueiros. Reaprender que a negociação não significa capitulação nem rompimento de compromissos, desde que as partes preservem suas respectivas identidades. Reaprender que a disposição para negociar traduz tão-somente o saudável reconhecimento de que nenhum líder ou facção é capaz de solucionar unilateralmente os problemas de uma sociedade complexa como a nossa.
Parabéns, Presidente. A eleição de amanhã reaviva no coração dos brasileiros o sonho de uma Nação politicamente moderna, civilizada e democrática. Gerações lutaram, morreram ou desesperaram por isso. Temos nós o alto privilégio de avançar mais um passo real em direção a este sonho; de senti-lo perto de nós, mais próximo que nunca.



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