Por
Renato Roschel
do
Banco
de Dados
Santo Amaro
O
nome daquele que foi um dos maiores bairros de São Paulo
nasceu de uma pequena imagem. Santo Amaro, padroeiro dos agricultores
e discípulo de São Bento, passou a denominar a região
a partir de 1560, quando o casal João Paes e Suzana Rodrigues
doou um santo de madeira à capelinha Nossa Senhora da Assunção
de Ibirapuera, instalada no aldeiamento de índios catequizados
naquela área. O embrião da vila de Santo Amaro surgiu
em 12 de agosto daquele ano, data em que os jesuítas tomaram
posse oficial de duas léguas de terras de relevo suave,
localizadas à margem esquerda do rio Jurubatuba. As terras
foram doadas aos jesuítas pelo Capitão Francisco
de Morais, em nome do padre Luís de Grã, provincial
da Companhia de Jesus. A capelinha para a qual foi doada a pequena
imagem de madeira do santo era o ponto central do aldeamento de
índios. A pequena imagem do santo, ainda hoje, depois de
450 anos, pode ser vista na igreja matriz de Santo Amaro. A igreja
do Largo 13 de Santo Amaro já passou por quatro grandes
reformas, desde o seu surgimento, mas a imagem de madeira ainda
está lá.
Esta história está toda registrada em um mosaico
que foi construído, em 1962, junto à estátua
do bandeirante Borba Gato, ponto de referência na avenida
Santo Amaro e do bairro de mesmo nome.
Foi em Santo Amaro o lugar onde nasceu o bandeirante Manuel Borba
Gato, que ficou conhecido por acompanhar seu sogro, Fernão
Dias Pais, em busca da "Terra de Esmeraldas", de 1673
a 1680. Apesar de não encontrar esmeraldas nesses sete
anos, mas apenas turmalinas, Borba Gato prosseguiu sua expedição
e acabou achando ouro. O que lhe valeu a nomeação
de Guarda Mór do Distrito do Rio das Velhas.
Em 14 de janeiro de 1686, Santo Amaro tornou-se paróquia,
por provisão do bispo do Rio de Janeiro, Dom José
de Barros Alarcão. O primeiro vigário que Santo
Amaro teve foi o padre João Pontes.
Em 1737, a Ordem Régia 212 ordena que se faça um
caminho ligando Santo Amaro à cidade de São Paulo.
Em 1746, o Senado ordena que sejam refeitos os caminhos do "Mboi
guassu à cidade, a cargo de sua freguesia e dos de Santo
Amaro, descortinando-se os matos e dando desvios às águas".
No começo do século 19, Santo Amaro possuía
três ou quatro ruas e algumas chácaras, além
da igrejinha com a pequena estátua.
Em 29 de junho 1829, Santo Amaro começa o crescimento que
o transformaria em um dos bairros mais populosos de São
Paulo, com um sorteio para distribuição de terras
aos colonos alemães que haviam escolhido as terras de Santo
Amaro como moradia. Os colonos alemães chegaram após
a proclamação da República. D. Pedro 1º
incumbiu Von Schaeffer de obter na Europa soldados para lutar
nas guerras do sul e colonos para povoar o Brasil.
Com a chegada dos alemães e com o surgimento de várias
atividades, principalmente agrícolas, a povoação
de Santo Amaro foi elevada à categoria de freguesia e,
logo em seguida, a 10 de julho de 1832, à categoria de
vila.
No ano seguinte, Francisco Antônio das Chagas (pai de Paulo
Eiró), professor de primeiras letras, foi nomeado primeiro
presidente da Câmara de Santo Amaro junto com mais 7 vereadores.
A primeira sessão da Câmara de Santo Amaro ocorreu
no dia 6 de maio de 1833.
Na segunda metade do século 19, a vila de Santo Amaro tornou-se
o celeiro de São Paulo, já que todos os gêneros
de primeira necessidade, como mandioca, milho, feijão e
arroz, eram produzidos e comercializados na região.
O ano de 1886 foi recheado de grandes acontecimentos para Santo
Amaro. No dia 14 de março, ocorreu a primeira viagem do
trem que saída da rua São Joaquim, seguia pela rua
Vergueiro, rua Domingos de Morais e avenida Jabuaquara, até
o local da atual igreja de São Judas Tadeu, onde ficava
a estação "do encontro". Depois, continuava
o percurso cruzando vastos campos onde hoje estão os bairros
Aeroporto, Campo Belo e Brooklin Paulista. O trenzinho, que levava
uma hora e meia para concluir o trajeto, passava pela Chácara
Flora e terminava seu percurso na vila de Santo Amaro, na praça
Santa Cruz, onde está hoje a escola Lineu Prestes.
Porém, o grande momento deste ano ocorreu no dia 14 de
novembro, quando a vila de Santo Amaro recebeu a visita do imperador
d. Pedro 2º e sua esposa.
A vila de Santo Amaro terminou o século 19 rica e independente.
No início do século 20 a história mudou.
São Paulo foi palco da terrível epidemia de gripe
espanhola. Santo Amaro, assim como a capital, também viveu
dias de muito sofrimento e morte.
Em 1907, a São Paulo Light and Power deu início
à construção da represa do Guarapiranga.
Logo após sua construção, a represa virou
um ponto turístico na cidade. Era sobre suas águas
que os primeiros aviadores da cidade faziam suas demonstrações.
Em 1935, três anos após as comemorações
do primeiro centenário do município de Santo Amaro,
o interventor federal, Armando Sales Oliveira, expediu um decreto
que anexou a cidade de Santo Amaro à capital.
Foi assim que Santo Amaro, município vastíssimo
que então fazia divisas com São Vicente e Itanhaém,
tornou-se um bairro da cidade de São Paulo.
Muitos moradores de Santo Amaro foram contra a anexação
e no mesmo ano em que esta ocorreu foi fundado o Centro Autonomista
de Santo Amaro.
Desde então, Santo Amaro já fez longas campanhas
para readquirir sua autonomia, porém nenhuma delas obteve
sucesso.
A industrialização do novo bairro, na década
de 1940, gerou uma ocupação desordenada do espaço.
Hoje, o bairro é uma zona de contrastes sócio-econômicos
e problemas de infra-estrutura. Santo Amaro é um dos retratos
mais fiéis da sociedade brasileira, pois é um bairro
que possui condomínios de luxo, com casas em que os preços
ultrapassam o milhão de reais e bolsões pobreza
como a favela Jurubatuba. É um bairro fraturado socialmente.
Onde os ricos se divertem no Credicard Hall, no Teatro Alfa Real,
no Clube Hípico de Santo Amaro e etc, enquanto os pobres
se amontoam nas favelas sem saneamento básico. É
um exemplo clássico, triste e terrível da realidade
brasileira.