Por
Elaine Muniz Pires
do
Banco
de Dados
Penha
A
história do bairro da Penha se confunde com o mito sobre
a origem de seu nome. Passagem obrigatória entre as aldeias
de Guarulhos, São Miguel e Tatuapé, a região
fazia parte da rota utilizada pelos bandeirantes a caminho do
Rio de Janeiro e de Minas Gerais, desde meados do século
17. Conta-se que um viajante francês seguindo por este trajeto
certa noite descansou numa colina onde hoje se localiza o bairro,
tendo na sua bagagem uma imagem de Nossa Senhora da Penha. Ao
continuar o trajeto, no dia seguinte, sentiu falta da santa e
voltou para procurá-la, encontrando-a onde pernoitara.
Recolhendo a imagem prosseguiu viagem, mas, em pouco tempo, notou
novamente sua falta. Encontrando-a na colina concluiu que a santa
tinha escolhido o local como pousada e ali construiu uma capela.
De fato, o bairro se desenvolveu em torno desta santa. Sua fundação
é incerta, mas a data mais citada é a de 5 de setembro
de 1668, quando foi concedida uma sesmaria ao padre Mateus Nunes
da Siqueira. No entanto, o próprio documento esclarece
que o padre já possuía uma fazenda no local e que
havia, por iniciativa de seu irmão, o também padre
Jacinto Nunes da Siqueira, erigido uma capela para Nossa Senhora
da Penha. Não se sabe ao certo quando a devoção
se inicia, mas o primeiro documento de fé data de 1667
referente a uma doação em testamento à igreja.
Com o passar dos anos, as peregrinações ao local
cresceram de uma tal maneira entre os paulistanos que, até
meados do século 19, as comemorações em homenagem
à santa constituíam uma grande festa na cidade.
Sempre no dia 8 de setembro, quando se comemora a natividade da
santa, cortejos chegavam do centro da cidade pelo caminho da Penha
(atual avenida Celso Garcia). A santa contava com tal devoção
dos paulistanos que nos grandes surtos de cólera ou varíola
do século 17, a imagem era deslocada para a igreja da Sé.
Em 22 de março de 1796, a Penha foi elevada a categoria
de freguesia, integrando regiões que hoje formam hoje os
bairros de Guaianazes, São Miguel, Ermelino Matarazzo e
Vila Matilde. É deste período que data a Igreja
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída
e destinada aos escravos. Por possuir significado especial para
comunidade até os dias atuais _ sobretudo a sala dos milagres
_ e diante da manutenção de sua estrutura de taipa
de pilão intacta, foi tombada pelo Condephaat (Conselho
de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico do Estado de São Paulo),
em 1982, em detrimento da Igreja Matriz.
A Penha, até o início do século 20, não
passava de um pequeno vilarejo com algumas chácaras. Com
o processo de industrialização e urbanização
da cidade, o bairro passou a receber parte da população
operária, o que o caracterizou até meados da década
de 60 como um bairro estritamente "dormitório".
Já nos anos 70, apesar do deficiente saneamento básico,
da precariedade dos sistema de ensino, saúde e transporte
e de apenas 40% das ruas estarem asfaltadas, o comércio
local começa a se desenvolver. Um comércio variado
e característico, como a "rua das noivas" (rua
Padre João), se instalou ao lado dos cinemas Júpiter,
Penharama e São Geraldo. A inauguração da
estação Penha do metrô, em 1986, deu novo
fôlego à modernização, propiciando
o desenvolvimento de uma infra-estrutura praticamente auto-suficiente
para região, que conta com muitos colégios públicos
e particulares, um sistema de transporte considerável,
hospitais, bibliotecas e etc.
Hoje, os cinemas do bairro não mais existem, tampouco a
rua das noivas tem o prestígio dos anos 70. O bairro residencial
transformou-se também em um centro comercial para zona
leste da cidade, possuindo além das já tradicionais
lojas de rua, o Mercado Municipal, um shopping center inaugurado
em 1992 e muitos vendedores ambulantes. A Penha, entretanto, guarda
ainda vários monumentos de sua história: igrejas,
a ladeira da Penha, o prédio onde funcionava o cinema São
Geraldo, o Conservatório João Paulo 2º, ruas
e praças que levam nomes de personagens importantes do
bairro como Maria Carlota - moradora que muito investiu no bairro
nos seus primórdios - e Dona Micaela - famosa negra vendedora
de doces da virada do século.