Por
Danilo Janúnio Alves
do
Banco
de Dados
Cambuci era caminho de tropeiros e viajantes
Conhecido desde o século 16, o Cambuci é um dos
bairros mais antigos da cidade que se têm registro. Seu
nome nasceu devido à grande quantidade de cambuci, uma
árvore de boa madeira e com um fruto apreciado em infusão
com aguardente, que existia no local.
Nos primórdios da São Paulo de Piratininga, passava
pela região de Cambuci uma trilha que dava acesso ao Caminho
do Mar, utilizado por tropeiros para chegar em Santos. Aos poucos,
principalmente a partir de 1850, desenvolveu-se ao redor da trilha
um pequeno comércio e algumas chácaras, sítios
e fazendas.
No passado, a região era considerado uma divisa entre a
cidade e a zona rural. O que separava essas zonas era um córrego
que existiu no lugar onde hoje é a rua dos Lavapés.
Lá, para os tropeiros e viajantes que entravam na cidade
pela baixada da Glória, era hábito lavar os pés
e dar de beber aos animais antes de seguir para a zona urbana.
Por volta de 1870, foi erguida no bairro a Capela Nossa Senhora
de Lourdes. Segundo moradores, a capela teria sido construída
em razão da devoção de Eulália Assumpção
e Silva (1834-1894), responsável pela construção
do santuário, a Santa de Lourdes. A igrejinha reproduz
com fidelidade o cenário da gruta da cidade francesa que
leva o mesmo nome da santa.
A construção do Museu do Ipiranga (Museu Paulista),
em 1890, e da linha de bonde que atravessava o Cambuci, ligando
o centro da cidade ao museu, valorizou as chácaras da região
que começaram a ceder espaço a exploração
imobiliária.
Nessa mesma época, com a chegada de imigrantes europeus,
a maioria italianos, começou a ampliação
do limite urbano no Cambuci, com a abertura de ruas e a construção
das casas. Várias fábricas também começaram
a ser instaladas na região, como a Chapeos Ramenzoni, a
Nadir Figueiredo e a Villares.
Em 1895, ficou concluída a Igreja da Glória, que
se originou da Capela N. S. de Lourdes, havendo antigamente na
parte baixa do morro onde a igreja foi construída uma pequena
cruz de madeira conhecida por Santa Cruz do Cambuci.
Por registrar um grande número de manifestações
operárias no início do século 20, e por abrigar
numerosos imigrantes italianos, alguns moradores afirmam que o
Cambuci é o berço do anarquismo em São Paulo.
O local de encontro político da época era o Cine-teatro
Guarani.
Outro fato que tem um significado especial na história
do bairro foi a tomada Igreja da Glória por rebeldes durante
a Revolução de 1924. Liderados pelo general Isidoro
Dias Lopes, apossaram-se da igreja, que fica no ponto mais alto
da região, de onde era possível ver o movimento
das tropas na cidade.
Foram 23 dias de pânicos entre os moradores, quando os homens
de Dias Lopes, que queriam a queda do presidente Artur Bernardes,
enfrentaram as tropas legalistas. Junto com o Brás e a
Mooca, o Cambuci foi um dos bairros mais atingidos pela luta que
quase arrasou São Paulo.
Ao contrário de toda a destruição que ocorreu
nessa época no Cambuci, o artista plástico Alfredo
Volpi (1996-1988) retratou e recriou pela arte o bairro em seus
quadros, ao lado do Brás e do Ipiranga.
Nascido em Lucca, na Itália, Volpi veio para o Brasil com
dois anos e foi morar direto no Cambuci, de onde nunca saiu. Um
dos expoentes dentro da pintura brasileira, pertenceu ao "Grupo
Santa Helena", ao lado de Clóvis Graciano, Rebolo,
Fúlvio Penachi e Mário Zanini.
Oficialmemente, o bairro foi criado em 19 de dezembro de 1906,
pela Lei 1040 B. Atualmente, o distrito de Cambuci tem 26.675
habitantes e é composto pelos bairros de Vila Deodoro,
Mooca (um pedaço) e Cambuci, que ao todo tem uma área
de 3,9 km2.