HISTÓRIA DOS BAIRROS PAULISTANOS - BRÁS
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Por
André Ghedine
do
Banco
de Dados
O
bairro do Brás, situado na região central de São
Paulo, nasceu como uma região de chácaras, cresceu
e se desenvolveu como bairro operário e "pátria"
dos imigrantes italianos, depois acolheu os migrantes nordestinos,
conheceu sua decadência e deterioração urbana
e hoje é conhecido como um dos principais centros do comércio
popular na cidade, destino diário de milhares de sacoleiros
e sacoleiras de todo o Brasil.
A origem do Brás está ligada à figura do português
José Brás. Diz a história que José Brás,
proprietário de uma chácara na região, teria
construído a igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, ao
redor da qual desenvolveu-se um povoado que daria origem ao bairro
do Brás.
A região era conhecida como paragem do Brás, pois
servia de parada para os que se dirigiam da freguesia da Sé
à freguesia de Nossa Senhora da Penha, onde já existia
um povoamento desde o século 17. Esse caminho de 1,5 léguas,
conhecido como estrada da Penha, compreende hoje as avenidas Rangel
Pestana e Celso Garcia. Pelos registros históricos, havia,
pelo menos desde 1744, procissões que conduziam a imagem
de Nossa Senhora da Penha de França da igreja da Penha até
a igreja da Sé, no centro, usando a estrada da Penha. Com
a sua construção, a igreja do Senhor Bom Jesus de
Matosinhos, na paragem do Brás, passou a ser ponto de parada
obrigatória dessas procissões, o que contribuiu para
o desenvolvimento da região.
Então, em 8 de junho de 1818, o Brás foi alçado
à categoria de freguesia e a igreja construída por
José Brás tornou-se a sua matriz. Nascia assim o bairro
do Brás.
Mesmo assim, o Brás era um bairro despovoado, com imensas
áreas vazias e com fortes características rurais,
com suas chácaras e atividades agrícolas. As inundações
do rio Tamanduateí impediam um crescimento mais acelerado
do bairro e o isolavam do centro da cidade. Em 1836, um recenseamento
apontava que a população do bairro era de 659 habitantes.
Um levantamento de 1865 totalizava 164 casas.
O Brás, entretanto, fazia a ligação entre a
colina de São Paulo e a da Penha. Era também caminho
para o Rio de Janeiro e Vale do Paraíba. E crescia com a
doação legal de terras e também com a posse
ilegal de terrenos devolutos. Gente humilde construía suas
casas de taipa ao lado de chácaras de famílias ricas.
Viajantes descreviam o bairro como um conjunto de "elegantes
casas de campo e chácaras", onde residiam famílias
abastadas, ao lado de "casebres e ranchos menos aristocráticos".
A partir da segunda metade do século 19, a cultura do café
impulsionou a urbanização e industrialização
da cidade de São Paulo. Chegaram à cidade os trilhos
da São Paulo Railway, que ligava Santos a Jundiaí.
A estação do Brás foi inaugurada em 1867 e,
ao longo desses trilhos, desenvolveu-se a indústria e o pequeno
comércio. Com seus terrenos baratos e sujeitos a inundações,
Brás e Mooca tornaram-se o principal destino da maioria dos
trabalhadores que chegavam à cidade.
A forte presença de imigrantes, em especial italianos, caracterizou
o bairro nessa época. Os que chegavam da Europa e de outros
lugares ao porto de Santos eram levados de trem até São
Paulo e de lá encaminhados para a lavoura de café
no inteiror do Estado. Outros fiacavam na cidade atraídos
pela indústria e comércio. Para receber e dar abrigo
provisório aos imigrantes, começou a funcionar, em
1882, no Bom Retiro, uma hospedaria. Como o local mostrou-se inadequado,
foi construída a Hospedaria de Imigrantes, localizada no
Brás, para substituir a antiga edificação.
Construída ao lado dos trilhos do trem, a Hospedaria de Imigrantes
recebeu seus primeiros "hóspedes" em 1887.
O Brás cresceu com a chegada dos imigrantes. Novas ruas e
alamedas foram abertas. Em 1903, uma nova e maior igreja do Senhor
Bom Jesus de Matosinhos foi inaugurada. A antiga, construída
por José Brás e reformada em 1803 por José
Corrêa de Morais, seria demolida no ano seguinte.
Entretanto, o bairro era humilde, muitas ruas ainda eram intransitáveis
e, durante a época das chuvas, as águas do rio Tamanduateí
tomavam as ruas do Brás.
No século 20, o Brás mudou de feição.
A partir da década de 40, o bairro passou a receber os milhares
de migrantes nordestinos que chegavam à cidade todos os dias
a procura de uma vida melhor. O reduto de italianos conheceu o crescimento
desordenado e a decadência. Na década de 70, com a
construção das estações Brás,
Pedro 2º e Bresser do Metrô, centenas de casas foram
desapropriadas e milhares de pessoas perderam suas casas. Hoje,
as ruas do bairros são sinônimo de comércio
popular.
Como outros bairros paulistanos com fortes traços de imigração
italiana, o Brás também criou sua festa tradicional.
É a festa de São Vito, comemorada nas ruas do bairro
desde 1919. Em 1895, um grupo de imigrantes italianos trouxe a imagem
de São Vito Mártir para o Brasil. O santo começou
a ser reverenciado no bairro e, em 1940, foi criada a paróquia
de São Vito.
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